Poucos dias após haver publicado o artigo, chegou-me às mãos o excelente livro “Freud: filosofia e psicanálise”, de Luiz Roberto Monzani e Ana Carolina Soliva Soria (organizadores), lançado em 2022, em São Carlos/SP, pela Editora EdUFSCar. Na Parte 3 da referida obra, encontramos o valioso texto de Suely Aires: NARCISISMO E PSICOSE, CEM ANOS DEPOIS. Oportuno citar o que diz a autora à página 136: “(…) Totem e tabu (1913) faz uma breve referência ao narcisismo e Mal-estar na civilização (1930) traz um detalhe que me parece bem interessante. Como nos lembra Freud, em 1930, uma das três fontes de sofrimento humano vem do convívio do homem com outros homens e uma das soluções diante desse incômodo é o uso de narcóticos, os quais trazem, ‘além de um ganho imediato de prazer, uma parcela muito desejada de independência em relação ao outro’. A recusa da alteridade, a independência em relação ao outro, a rejeição do outro e do mundo externo no prazer privado do uso da droga, estão aí colocadas de forma pontual e precisa. O investimento narcísico, em seu limite, exclui toda alteridade.”
Uma colega psicanalista (que teve a gentileza de ler e criticar o texto) sugeriu, pelo número de vezes que aparece a palavra “gozo” no mesmo (14 vezes), que eu caracterizasse minimamente tal palavra. Procuro fazê-lo indo diretamente ao “DICIONÁRIO DE PSICANÁLISE”, de Roudinesco e Plon, às páginas 299-301, verbete “Gozo”:
“Raramente utilizado por Sigmund Freud, o termo gozo tornou-se um conceito na obra de Jacques Lacan.
Inicialmente ligado ao prazer sexual, o conceito de gozo implica a idéia de uma transgressão da lei: desafio, submissão ou escárnio. O gozo, portanto, participa da perversão, teorizada por Lacan como um dos componentes estruturais do funcionamento psíquico, distinto das perversões sexuais.
Posteriormente, o gozo foi repensado por Lacan no âmbito de uma teoria da identidade sexual, expressa em fórmulas da sexuação que levaram a distinguir o gozo fálico do gozo feminino (ou gozo dito suplementar).
O termo gozo surgiu no século XV, para designar a ação de fazer uso de um bem com a finalidade de retirar dele as satisfações que ele supostamente proporcionava. Nesse contexto, o termo reveste-se de uma dimensão jurídica, ligada à noção de usufruto, que define o direito de gozar de um bem pertencente a terceiros. Em 1503, o termo foi enriquecido por uma dimensão hedonista, tornando-se sinônimo de prazer, alegria, bem-estar e volúpia.” (etc.)
Poucos dias após haver publicado o artigo, chegou-me às mãos o excelente livro “Freud: filosofia e psicanálise”, de Luiz Roberto Monzani e Ana Carolina Soliva Soria (organizadores), lançado em 2022, em São Carlos/SP, pela Editora EdUFSCar. Na Parte 3 da referida obra, encontramos o valioso texto de Suely Aires: NARCISISMO E PSICOSE, CEM ANOS DEPOIS. Oportuno citar o que diz a autora à página 136: “(…) Totem e tabu (1913) faz uma breve referência ao narcisismo e Mal-estar na civilização (1930) traz um detalhe que me parece bem interessante. Como nos lembra Freud, em 1930, uma das três fontes de sofrimento humano vem do convívio do homem com outros homens e uma das soluções diante desse incômodo é o uso de narcóticos, os quais trazem, ‘além de um ganho imediato de prazer, uma parcela muito desejada de independência em relação ao outro’. A recusa da alteridade, a independência em relação ao outro, a rejeição do outro e do mundo externo no prazer privado do uso da droga, estão aí colocadas de forma pontual e precisa. O investimento narcísico, em seu limite, exclui toda alteridade.”
Uma colega psicanalista (que teve a gentileza de ler e criticar o texto) sugeriu, pelo número de vezes que aparece a palavra “gozo” no mesmo (14 vezes), que eu caracterizasse minimamente tal palavra. Procuro fazê-lo indo diretamente ao “DICIONÁRIO DE PSICANÁLISE”, de Roudinesco e Plon, às páginas 299-301, verbete “Gozo”:
“Raramente utilizado por Sigmund Freud, o termo gozo tornou-se um conceito na obra de Jacques Lacan.
Inicialmente ligado ao prazer sexual, o conceito de gozo implica a idéia de uma transgressão da lei: desafio, submissão ou escárnio. O gozo, portanto, participa da perversão, teorizada por Lacan como um dos componentes estruturais do funcionamento psíquico, distinto das perversões sexuais.
Posteriormente, o gozo foi repensado por Lacan no âmbito de uma teoria da identidade sexual, expressa em fórmulas da sexuação que levaram a distinguir o gozo fálico do gozo feminino (ou gozo dito suplementar).
O termo gozo surgiu no século XV, para designar a ação de fazer uso de um bem com a finalidade de retirar dele as satisfações que ele supostamente proporcionava. Nesse contexto, o termo reveste-se de uma dimensão jurídica, ligada à noção de usufruto, que define o direito de gozar de um bem pertencente a terceiros. Em 1503, o termo foi enriquecido por uma dimensão hedonista, tornando-se sinônimo de prazer, alegria, bem-estar e volúpia.” (etc.)