Quem tem coragem de confessar sua vaidade?

Fausto Antonio de Azevedo

Um amigo querido, bioquímico e médico, disse-me ontem, em referência ao drama-caos que o mundo está atravessando, que, em sua percepção, o pior efeito colateral da pandemia viral é o “pandemônio virtual” que se instalou. Já uma psicóloga, educadora e psicanalista, parceira de viveres e poesias, comentou minha observação sobre humildade intelectual (humildade como oposto de orgulho e vaidade), a qual eu lhe fizera por estar vasculhando a vida de Gregório Magno1, arrematando que hoje nos são escassas a humildade em tudo e a honestidade em mais do que tudo.

A conjunção de tais opiniões tão intensas e tão afeitas ao momento presente lançou-me, de pronto, não a qualquer grande pensador moderno da saúde ou da economia ou da política, mas a Santo Agostinho e sua obra Confissões.

Por que? Porque no “pandemônio virtual” verifica-se uma tempestade de egos, uma intoxicação de saberes (saberes?), e a mais absoluta falta de humildade intelectual… E porque esse orgulho de “saber”, essa soberba de importância e “conhecimento”, essa vaidade de “retórica”, são defeitos humanos que foram suficientemente bem dissecados e anulados (em si) pelo bispo Agostinho de Hipona naquela sua obra definitiva, de que vale muito se recordar alguma coisa.

Ela se desenvolve em duas partes, com treze livros ao todo, cada qual com muitos capítulos. O décimo livro – O encontro com Deus (primeiro da Parte II), sem que se apequene todos os demais, nos salta aos olhos seja por suas reflexões já em si muito agudas, seja por um quê de aproximação com a filosofia da linguagem, a natureza da memória, o sonho e o inconsciente, a psicanálise, a libertação, ao perceber de um homem arguto já no limiar dos anos 300-400 de nossa era! Para exemplo, permitam-me transcrever aqui ao menos o Capítulo XXX – Tríplice tentação (ou, em outras traduções, Sonho e voluptuosidade), deste Livro X:

“Vós me mandais, sem dúvida, que me abstenha da concupiscência da carne, da concupiscência dos olhos e da ambição do mundo. Vós me ordenastes que me abstivesse das relações luxuriosas. Quanto ao matrimônio, apesar de o permitirdes, me ensinastes que havia outro estado melhor. E porque me concedestes isso, abracei-o antes de ser nomeado dispensador do Vosso Sacramento.

“Mas na minha memória, de que longamente falei, vivem ainda as imagens de obscenidades que o hábito inveterado lá fixou. Quando, acordado, me vêm à mente, não têm força. Porém, durante o sono, não só me arrastam ao deleite, mas até à aparência do consentimento e da ação. A ilusão da imagem possui tanto poder na minha alma e na minha carne, que, enquanto durmo falsos fantasmas me persuadem a ações a que, acordado, nem sequer as realidades me podem persuadir.

“Meu Deus e Senhor, não sou eu o mesmo nessas ocasiões? Apesar disso, que diferença tão grande vai de mim a mim mesmo, desde o momento em que ingresso até àquele tempo em que de lá volto!

Onde está nesse momento a razão que resiste a tais sugestões quando estou acordado e permanece inabalável, quando as próprias realidades se lhe introduzem? Fecha-se, quando cerro os olhos? Dorme simultaneamente com os sentidos corporais? E por que é que muitas vezes, mesmo no sono, resistimos, lembrados do nosso propósito, e nele permanecemos castos, não dando nenhum consentimento a tais enganos? Contudo, a diferença é tão grande, que, quando no sono nos sucede não resistir, ao acordar voltamos ao descanso da consciência. Por essa mesma diferença é que vemos que não praticamos voluntariamente essas ações, dado ao fato de sentirmos pena de que tais atos se tivessem passado em nós.

“Não é poderosa a Vossa mão, ó Deus triunfante, para me sarar todas as enfermidades da alma e para extinguir, com graça mais abundante, os movimentos lascivos mesmo durante o sono? Aumentareis, Senhor, em mim, cada vez mais as Vossas dádivas, para que minha alma, liberta do visco da concupiscência, siga até Vós. Para que não seja rebelde, nem sequer no sono; para que não cometa tais torpezas e depravações sob a ação de imagens animalescas, descendo até à lascívia carnal; para que, enfim, de modo nenhum, nelas consinta.

“Não é muito para Vós, ó Onipotente – que podeis fazer ainda mais do que aquilo que pedimos e compreendemos – impedir não só nesta vida mas também nesta idade, que alguma das tentações me deleite, mesmo que seja tão pequena como a que posso vencer logo, ao primeiro esforço da vontade quando adormeço com pensamentos castos. Agora, porém, exultando embora com tremor perante o bem que me concedestes, e lamentando-me diante do que ainda não obtive, disse ao meu Senhor que ainda me encontrava nesse gênero de mal. Espero que aperfeiçoareis em mim as Vossas misericórdias até à plena paz, que os sentidos interiores e exteriores terão convosco, quando a morte for substituída pela vitória.”2 (Grifos meus.)

Referindo-se ao mesmo Livro X antes apontado, assim comenta Emmanuel Carneiro Leão em As confissões: uma caminhada da libertação:

“ (…) As Confissões proclamam a libertação de todos os homens e assim anunciam para todo o mundo a verdade libertadora de Deus.

“O Livro X apresenta desde o início o desafio desta universalidade. A liberdade não é meramente outorgada mas conquistada por um esforço não negativo de libertar-se: ‘Mas Vós amais a verdade e por isso quem a pratica alcança a luz. Quero também praticá-la, confessando-vos a Vós no meu coração e a um grande número de testemunhas nos meus escritos’ (X,1). Em que consiste um esforço não negativo de libertar-se? É o esforço da libertação da verdade que não é nem apenas negativo, liberdade de, independência, nem somente positivo, negação da negação, liberdade para, competência. O esforço não negativo de libertar-se transcende a ambos na medida em que os integra num mesmo movimento de libertação. A Confissão não é uma exigência da verdade. A verdade proclama a sua grandeza na própria libertação.”3

Quanto ao possível aspecto psicanalítico do texto agostiniano, John Gale nos oferece importantes considerações no capítulo de sua autoria “Did Augustine foreshadow psychoanalysis?” no livro em que foi um dos organizadores: “Insanity and Divinity: Studies in Psychosis and Spirituality”4. Diz ele que, em 1908 (ano em do primeiro encontro internacional de psicanalistas, em Salzberg, e apenas oito anos depois da publicação do “Die Traumdeutung” – “A Interpretação dos Sonhos”, de Freud), um editor inglês das “Confissões” (que Agostinho escreveu em 397, quando já era Bispo) notou que o “Livro X” representava uma análise verdadeira e psicológica dos fenômenos dos aspectos conscientes e inconscientes da mente. Essa observação também foi feita por autores posteriores, apesar de que existem discordâncias. Assim nos explica Gale5:

“(…) a semelhança entre a abordagem de Freud e aquela de Agostinho continua a ser reconhecida por outros. Os defensores recentes dessa última visão incluem Woolcott (1966) e Elledge (1988). Para Gay (1986), o texto de Die Traumdeutung, de Freud, funciona de forma muito parecida como as Confissões, ao tornar público o mundo interior do autor e, particularmente, seus sonhos, ele transforma o que é uma história pessoal inerentemente privada em sabedoria estabelecida.

“A obra-prima de Freud A interpretação dos sonhos (1900) alcança autoridade precisamente porque contém tantas ‘confissões’. Ela expõe o ciúme de Freud, desejos mesquinhos, sexualizados e hostis, suas ambições grandiosas e seus neuroticismos graves. Em outras palavras, revela uma pessoa muito parecida conosco, a diferença é que Freud e Agostinho criaram modos intelectuais que permitem a confissão, mas evitam o embaraço narcísico. (Gay 1986: 64)

“De fato, nos Écrits (1977), Agostinho foi afamadamente descrito pelo psicanalista francês Jacques Lacan como prenunciando a psicanálise (Lacan, 1977).”6

Em documento anterior “Tecnologias de produção do eu”7 esbocei já um pouco da vida e da obra de Santo Agostinho. Aurélio Agostinho, homem de paixão pela vida, filósofo cristão da patrística (filosofia dos padres da Igreja), platônico e neoplatônico, nasceu a 13 de novembro de 354 (quando o Império Romano, pelo édito de Constantino, já adotara, em 313, o cristianismo como religião), na cidade romana de Tagaste (atual Souk Ahras), norte da África, leste da atual Argélia (que àquela altura era a Numídia); e faleceu a 28 de agosto de 430, na cidade de Hipona (em latim: Hippo Regius), hoje Annaba, também na Argélia. Agostinho, que viverá um longo e trabalhoso processo de conversão à fé Cristã, e se transformará, depois, no Bispo de Hipona (a segunda maior cidade do norte da África naquela altura) e no Santo Agostinho doutor da Igreja Católica, antecipa, de certa maneira, em vários séculos, os achados posteriores de René Descartes, na medida em que, ao dissecar os argumentos céticos, constata que enquanto pensa, se pensa, é porque existe, tem uma existência incontestável, e existe porque tem uma história, a qual é corajosamente repassada nas Confissões. E vai além: Eu sou, “o que significa imediatamente Eu quero, pois a vontade é inerente à existência que constato em mim.” Todavia, Agostinho também constata não ser fundamento de si, que não é causa de si, mas que, por baixo dele ou antes dele, existe algo que o suporta, que suporta sua existência, na qual, por certo, ele não foi posto por si mesmo. Portanto, ele como que deduz a existência de Deus a partir de sua própria interioridade (e isso é oposto a Descartes, que virá depois), de modo orgânico, e assim, aquela certeza que seu “eu” tem de si mesmo já embute a afirmação de algo que também está lá, desde antes, e que transcende aquele eu. Resumindo, em Agostinho a relação entre o eu e Deus é interna, orgânica como dito, e necessária ao eu, enquanto no futuro, em Descartes, ela será externa e mecânica, lógico-dedutiva, necessária para lançar as bases de sustentação da objetividade, que analisará o mundo livre de critérios subjetivos (posteriormente, Kierkegaard buscará restabelecer a subjetividade).

Agostinho, que por um lado encerra o período greco-romano e está no abrir de uma filosofia de passagem do medieval para, eu arrisco dizer, já o moderno (na medida em que trará para a cena esse eu existencial sujeito de seus atos), e que também transita assim no limiar entre o fim do Império Romano (Ocidente) e o início do regime feudal na Europa, é, destarte, o primeiro pensador a trazer para a tradição, para o cânone filosófico, a questão desse eu existencial, de sua aflição por entender sua origem e seus sustentáculos, a partir da própria biografia, narrada, vivida e… confessada! E vale salientar que para levar adiante suas confissões, ele precisa lidar com dois parâmetros viscerais: a sinceridade e a aceitação do eu na dita continuidade do tempo, o que implica na responsabilidade para com seus atos, daí eu haver referido a extrema coragem requerida pela empreitada (e daí também o título do artigo).

A conversão de Agostinho ao cristianismo foi catalisada por via do platonismo. Nesse processo destacaram-se as figuras de Plotino e, sobretudo, de Ambrósio, bispo de Milão. O cristianismo, intercalado entre a religião dos judeus e a dos pagãos, encontra com Agostinho uma questão central para sua filosofia, que é a relação razão-fé: qualquer uma delas fica incompleta sem a outra. Ele procurará costurar uma síntese entre a racionalidade do pensamento platônico, de um lado, e, de outro, a revelação Cristã, que é um objeto de fé, passando a pensar sistematicamente o cristianismo. Ele perceberá a conexão entre crer e compreender e encontrará a fórmula do compreendo aquilo no que creio e creio porque compreendo. Trata-se de se aplicar a inteligência à fé e, por meio desse estratagema, pretender alguma capacidade para perguntar “Quem é Deus?” para, por fim, formular outra indagação, tão inquietante como a primeira: “Quem sou eu?” Indagação que perdura na mente de cada um de nós, ecoando ruidosamente até hoje e, de certo modo, nunca respondida.

Chegamos ao ponto portanto: QUEM SOU EU? Como saber quem sou, por quais critérios, como não me deixar levar por fantasias ou por fantasmas mesmo, ou por anjos malignos, que me descompõem e me fornecem uma ilusão de mim; com que método, em que base posso me assentar para saber quem sou; como posso me desligar de tudo que é supérfluo e tudo que é passageiro, de tudo que não é transcendente da vida que se vive nesse mundo cada vez mais envolto em mentiras, em necessidades consumistas, em aparências, em pura materialidade?

Com menos de 30 anos, Agostinho já alcançara fama, já era alguém de destaque e respeitado na sociedade local, era uma espécie de advogado brilhante e conhecido por sua retórica (uma espécie de “marketing” daquele tempo…) poderosa, convincente, porém, quanto mais vivia o prestígio, o orgulho, a soberba, a vaidade, os prazeres da sensualidade, mais distante de si se percebia e mais vazio se sentia, mais sem sustentação, sem substrato, sem o sub-jectum… Precisava de algo maior em que ancorar seu eu, precisava de uma referência transcendental para poder se interpretar e identificar. Por isso, num primeiro momento, aproximou-se do Maniqueísmo reinante então, todavia, este foi-lhe uma grande decepção. Na segunda tentativa, no período de Roma e Milão, encontra Ambrósio, o qual causa impressão profunda em seu espírito, nem tanto por seus talentos discursivos e filosóficos, de bases platônicas, que muito também agradavam a Agostinho, porém mais pela inteira proximidade em Ambrósio entre o que ele predicava e o que ele vivia: foi a aura plena de ética da vida (ética no sentido verdadeiro de nenhum distanciamento entre o pensado e falado e o praticado e vivido) de Ambrósio que inspirou Agostinho e como que lhe determinou a um novo caminho.

E o que me impulsionou a essas reflexões foi, ao ouvir numa apresentação de Fray Nelson Medina8, teólogo dominicano, a menção a três vícios que Agostinho relata que o aprisionavam na vida anterior à sua conversão, a saber: ambição, vaidade e sensualidade. De fato, estas palavras e alusões a elas frequentam muitas vezes o texto total das Confissões. Sobretudo, o antes indicado Livro X nos adverte bastante a respeito.

Todavia, Agostinho, por meio de um esforço pessoal e de um disciplinado método de pensamento que colocou em prática, logrou obter uma forma de libertação, vale dizer: pelo exercício da verdade confiada em Deus, seu baluarte e referencial, conquistou um elevado aprimoramento para sua vida e o sentido dela. Ora, para os que não crêem no transcendente como ele cria, não quer dizer que não haja caminho e método para também ascender seus valores e posturas na vida – e não me refiro aqui, necessariamente, a elementos hipertrofiados de imanência.

Seja como for, indubitavelmente os tempos presentes praticam e destilam, em tudo e por tudo, uma exortação à tríade ambição-vaidade-sensualidade, transformando-as em valores e hábitos supremos. Como consequência, cada vez mais, seguindo o fluido agostiniano, as vidas vão sendo percebidas como vazias, fenômeno que acaba por explodir nos consultórios psicanalíticos. A experiência clínica hoje é fortemente tipificada pela queixa inicial de “falta de sentido”9. E Agostinho nos demonstra com propriedade que o sentido está dentro de nós: em seu caso, no seu diálogo com Deus, ele confessa que O procurava fora em tudo, enquanto Ele estava disponível e serenamente presente em seu interior:

“Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Eis que habitáveis dentro de mim, e eu lá fora a procurar-vos! Disforme, lançava-me sobre estas formosuras que criastes. Estáveis comigo, e eu não estava convosco!”10

E sempre há-de haver algo equivalente ao divino habitando em cada um de nós: filósofos e poetas o constataram, são incontáveis as manifestações; e talvez seja da competência exclusiva de cada um de nós a construção da “nossa” própria “confissão” libertadora.

Daquela tríade, quero tomar a idéia de vaidade – vanidade11 (prestígio do ego) e seu conjugado oposto humildade – honestidade (intelectual). O Aulete Digital, dicionário eletrônico Caldas Aulete, assim define vanidade: “s. f. || caráter, qualidade do que é vão; vaidade. F. lat. Vanitas”. Portanto, repita-se, vaidade é a qualidade do que é vão, ou seja, vazio, oco, sem substância ou densidade. E vão, por sua vez, no mesmo dicionário é: “que está vazio, oco (compartimento vão); falto de realidade, fantástico, imaginário (sonho vão); falto de senso, de conhecimentos, de fundamento; que é inútil, baldado; leviano, mal-intencionado”.

Charles Allan Gilbert (1873-1929) “Tudo é Vaidade” (1892)

Reunindo, agora, esta palavra “vaidade”, na conotação empregada nas Confissões, com o primeiro parágrafo do texto presente, o que agudamente me atinge nos dias atuais, no “pandemônio virtual”, é o interminável – e lamentável – desfile vaidoso das próprias opiniões (doxa… o oposto de sofia ou episteme…), no mais das vezes infundadas e insensatas, que o meio eletrônico e suas “mídias” sociais permitem. Por certo que alguém já fuzilou: “inclusive esse seu artigo!”. Verdade…

A vaidade, “paixão da alma”, como “ambição mesquinha, vangloria, egocentrismo”12, Vanitas vanitatum, et omnia vanitas: “Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade” (Eclesiastes 1:2), nem é constituinte do ser nem lhe promove qualquer bem, ao contrário, o impede de perceber o outro tanto quanto as boas criações de outrem. Essa vaidade, siamesa do orgulho, é tóxica e destruidora, e é bem o que se percebe nesse momento de elevada tensão social, em que o desfile vaidoso de opiniões – vai o pleonasmo… pessoais! – pelas redes sociais acaba por produzir em todos cegueira e surdez, dois temas, volto a ele, muito bem abordados como nocivos por Agostinho no Livro X das Confissões. Aliás, ao modo do autor John Gale antes citado, que busca as tangências entre psicanálise, filosofia e religião, eu vou além opinando que quanto às “opiniões pessoais” antes destacadas, também elas em processo epidêmico, parecemos estar muito bem rotulados pela palavra histeria, seja pessoal seja coletiva. Mas não se pode negar que há nesse processo uma fumaça de democracia – a questão é como melhor fazer proveito dela e de suas consequências.

A vaidade do saber assenta numa presunção de poder. Pensar que sabe e acreditar nisso não deixa de ser uma ferramenta da luta pela sobrevivência individual, ainda que não necessariamente inteligente. Essa espetacularização do “saber” que graça nas mídias e nas redes sociais, repeditamente desprovida de base e fundamentos, que “convence” seja pela insistência repetitiva seja pelo espetaculoso da apresentação, é nada mais que o locus ideal para a vaidade desse “saber”. No capítulo (ou tópico) 37 – A tentação do louvor, do Livro X das Confissões, Agostinho fala:

“Se o louvor deve ser habitualmente companheiro da vida sã e das boas obras, nesse caso não nos podemos abster do convívio do louvor que acompanha a vida santa. A verdade, porém, é que não distinguimos se a privação de um bem nos é indiferente ou molesta, senão na ausência desse bem.

“Que Vos hei de confessar, Senhor, neste gênero de tentações? Que me deleito muito com os louvores? Mas ainda me deleito mais com a verdade do que com os louvores! Pois, se me dessem à escolha ou ser um doido que se engana em todas as coisas, mas é louvado por todos, ou ser um homem seguríssimo da verdade, mas por toda a gente escarnecido, bem sei o que escolheria. Portanto, não quereria que o louvor saído de uns lábios alheios aumentasse o gosto que experimento pela boa obra, seja ela qual for. Porém, tenho de confessar que não só o louvor lhe aumenta o deleite, mas também que o vitupério o diminui.”13

São Tomás de Aquino, da mesma forma que São Gregório Magno (Ver nota 1), também considerava a vaidade um grave pecado capital. Não se pode falar em “vaidade”, todavia, sem que se aponte, mesmo brevemente, um nome em particular. E por ser tal nome, infelizmente, ainda bastante desconhecido entre nós, até mesmo da dita intelligentsia local, eu o cito com uma sensação prazerosa de… vaidade! Trata-se do paulistano Matias Aires: Mathias Ayres Ramos da Silva de Eça (27/março/1705, São Paulo – 1763, Lisboa), filósofo e escritor, que estudou no colégio jesuíta de São Paulo. Em 1716, mudou-se com os pais para Portugal e cursou o Colégio de Santo Antão; em 1722 ingressou na Faculdade de Direito de Coimbra e obteve o grau de Licenciado em Artes; em seguida, Bacharel em Filosofia pela Faculdade de Ciências e Mestre em Artes pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Depois, na França (Sorbonne), estudou Direito Civil e Canônico. Estudou também Matemática e Ciências Físicas, além de conhecer o Hebraico o Grego e outras línguas. Escreveu obras em francês e latim, traduziu clássicos latinos e é considerado o grande nome da filosofia de língua portuguesa do seu século. Pois bem, este paulista, autor de vasta obra, escreveu em latim, em plena vigência do Index e do Santo Ofício na Ibéria, as Reflexões sobre a vaidade dos homens (ou, Discursos moraes sobre os effeitos da vaidade offerecidos a elrey nosso senhor D. José I)14, lançadas em 1752. Julgo todo o texto das Reflexões de Matias Aires como extremamente sábio, contundente e poderoso; leitura que eu consideraria obrigatória a todos aqueles que pretendem conquistar na vida valores outros que a efemeridade do ter, do possuir e do consumir. Ele nos alerta inclusive para aspectos às vezes não percebidos, sutis, como a vaidade de fazer o bem, por exemplo. Ousa ele até mesmo sugerir – ou deixa isso por nossa própria conta, induzindo-nos a descobrir, como um bom escritor que foi, que mesmo a “bondade”, a “santidade” de algumas pessoas não seriam mais do que fruto de uma vaidade dissimulada. Lamentavelmente também isso se tem observado nos dias que correm, quando instituições15, empresas ou pessoas individualmente ajudam de alguma forma no combate à pandemia, porém não se escusam de propagar nas mesmas redes sociais a sua contribuição. É bem sabido, como demonstraram Matias Aires e outros tantos expoentes da filosofia e do catolicismo, que foram guindados a posição de beatos ou Santos, que a doação (o doar como a mais nobre de todas as ações e capacidades humanas), para ser verdadeira no que significa em si e ser verdadeiramente nobre, precisa ser ao invés de exposta, oculta; ao invés de divulgada, segredada; ao invés de explicitada para fins do louvor social, guardada, absolutamente guardada, para conhecimento apenas de Deus à luz dos que assim acreditam. Matias Aires nos esclarece:

“Sendo o têrmo da vida limitada, não tem limite a nossa vaidade; porque dura mais, do que nós mesmos e se introduz nos aparatos últimos da morte. Que maior prova, do que a fábrica de um elevado mausoléu? No silêncio de uma urna depositam os homens as suas memórias, para com a fé dos mármores fazerem seus nomes imortais, querem que a suntuosidade do túmulo sirva de inspirar veneração, como se fôssem relíquias as suas cinzas, e que corra por conta dos jaspes a continuação do respeito. Que frívolo cuidado! Êsse triste resto daquilo que foi homem, já parece um ídolo colocado em um breve, mas soberbo domicílio, que a vaidade edificou para habitação de uma cinza fria, e desta declara a inscrição o nome e a grandeza. A vaidade até se estende a enriquecer de adornos o mesmo pobre horror da sepultura.

“Vivemos com vaidade, e com vaidade morremos; arrancando os últimos suspiros, estamos dispondo a nossa pompa fúnebre, como se em hora tão fatal o morrer não bastasse para ocupação: nessa hora, em que estamos para deixar o mundo, ou em que o mundo está para nos deixar, e entramos a compor, e a ordenar o nosso acompanhamento, e assistência funeral; e com vanglória antecipada nos pomos a antever aquela cerimônia, a que chamam as nações últimas honras, devendo antes chamá-la vaidades últimas. Queremos, que em cada um de nós se entregue à terra com solenidade, e fausto, outra infeliz porção de terra: tributo inexorável! A vaidade no meio da agonia nos faz saborear a ostentação de um luxo, que nos é posterior, e nos faz sensíveis as atenções, que hão-de dirigir-se à nossa insensibilidade. Transportamos para o tempo da vida aquela vaidade, de que não podemos ser capazes depois da morte: nisto é piedosa conosco a vaidade; porque em instantes cheios de dôr e de amargura, não nos desampara; antes nas disposições de uma pompa fúnebre, dá ao nosso cuidado uma aplicação, ainda que triste, e faz com que divertido, e empregado o nosso pensamento chegue a contemplar vistosa a nossa mesma morte, e luzida a nossa mesma sombra.

De tôdas as paixões, quem mais se esconde, é a vaidade: e se esconde de tal forma, que a si mesma se oculta, e ignora: ainda as ações mais pias nascem muitas vêzes de uma vaidade mística, que quem a tem, não a conhece nem distingue: a satisfação própria, que a alma recebe, é como um espêlho em que nos vemos superiores aos mais homens pelo bem que obramos, e nisso consiste a vaidade de obrar o bem. 16(Grifos meus.)

Outra vez de retorno e ao primeiro parágrafo deste texto, a expressão humildade-honestidade intelectual lá inserida, no cotejo com a vaidade-vanidade (louvor vão), mostra que, no agora em que vamos, a primeira resulta enormemente enfraquecida pela segunda. Não há mais tempo para se aprofundar questões, tudo tem que ser rápido, substituível, renovável, os critérios do exame profundo e verificação arguta de qualquer dado ou fato são abandonados em benefício da produção de espanto, admiração e “likes”: e a nocividade se magnifica na medida em que a informação não necessariamente verídica, a doação não necessariamente moral, etc., de pronto se transformam em opiniões “expressivas” da verdade inquestionável e do fazer correto, adentrando-se por aí já o domínio ideológico e fundamentalista das crenças. O que comanda é a conquista de visualizações, os (agora) segundos de glória (Andy Warhol: “um dia, todos terão direito a 15 minutos de fama”), mas uma outra glória, dispensável, não aquela a que tanto aludia Agostinho. Hoje, parece que de bom grado, trocamos as efemérides pela efemeridade. Um hoje que para Jean Baudrillard, sociólogo, filósofo, poeta e fotógrafo francês, é a época dos “simulacros”, conforme desenvolvido em seu livro Simulacros e Simulação17, um real sem origem nem realidade, coisa que é representação de outra, coisa vã em si. E as tecnologias atuais mais do que nunca permitem o exercício da vaidade do hoje: existe um espaço virtual, pandemônico, em nuvem, que abriga então a era da imagem e da autoimagem, imagens que prescindem de vínculo com uma realidade-verdade de suporte. A vaidade, que per se já é algo vão, sinergiza-se com a simulação e os simulacros daquilo que pretende representar-simbolizar criando algo que só pode ser da ordem do delírio e/ou patológica fantasia.

E, finalmente, na direção dessa potencial patologia da vaidade acima destacada, é preciso que se perceba, em certa extensão, a aproximação entre ela (como perturbação de exercício necessariamente social, por absoluta precisão da cooperação do outro para pulsar seu gozo) e o narcisismo18, como patologia de uma libido, que se desliga de objetos externos e se volta para o próprio eu, fazendo-o objeto de seu investimento. É lícito arriscar que a vaidade (como o prazer de possuir aquilo que arrasta a atenção de todos para um eu dotado de qualidades supostamente reverenciadas pelos demais: talento, saber, carisma, oratória, poder, riqueza, beleza, juventude, bondade…) é uma forma indireta de amor narcísico, em que é o eu-mesmo que é eleito como destinatário do próprio amor pulsional. E vale lembrar o alerta: se tal tese é verdadeira, então, tanto a vaidade quanto o narcisismo, este conforme o mito de Narciso, podem levar à morte!

Notas e Referências

[1] Gregório Magno; Gregório I; Gregório, o Grande papa; Gregório, o Dialogador, São Gregório, papa de 3 de setembro de 590 a 12 de março de 604, conhecido por suas muitas obras e por ser o primeiro papa que foi monge antes do pontificado. No final do século VI, promulgou a lista oficial da Igreja para os sete pecados capitais, reunindo “vaidade” e “orgulho” (ou “soberba”), e trocando “acídia” (ou “preguiça”) por “indolência” e “melancolia” por “inveja”. Hierarquizou tais pecados na seguinte ordem decrescente: Orgulho; Inveja; Ira; Indolência; Avareza; Gula; Luxúria.

[2] Agostinho, Santo, Bispo de Hipona. Confissões / Aurélio Agostinho [Tradução: J. Oliveira Santos, A. Ambrósio de Pina.] 1ª ed. São Paulo: Folha de São Paulo, 2010. [Coleção Folha: livros que mudaram o mundo; v. 12.] p. 157/158.

[3] Emmanuel Carneiro Leão. As confissões: uma caminhada da libertação. [Introdução.] In: gostinho, Santo, Bispo de Hipona. Confissões / Aurélio Agostinho [Tradução: J. Oliveira Santos, A. Ambrósio de Pina.] 1ª ed. São Paulo: Folha de São Paulo, 2010. [Coleção Folha: livros que mudaram o mundo; v. 12.] p. 16.

[4] John Gale. “Did Augustine foreshadow psychoanalysis?” In: John Gale, Michael Robson, Georgia Rapsomatioti. Ed. Insanity and Divinity – Studies in Psychosis and Spirituality. 1st. ed. 2013 Routledge London: Routledge, Taylor & Francis Group, 2013. 288 p. Capítulo 7.

https://www.taylorfrancis.com/books/e/9780203694244/chapters/10.4324/9780203694244-21

https://doi.org/10.4324/9780203694244

[5] John Gale é um ex-monge beneditino. Filósofo, psicoterapeuta, escritor, CEO da instituição de caridade “Community Housing and Therapy” (1999-2016). Tem particular interesse na interface entre filosofia, espiritualidade e psicanálise. Criou e preside a INPP – “Rede Internacional de Práticas Psicanalíticas”. Autor de mais de 30 trabalhos acadêmicos e capítulos de livros sobre os discursos intersetoriais da psicanálise, filosofia e espiritualidade, com especial interesse no trabalho de Lacan. (Ver: https://www.linkedin.com/in/john-gale-85408931/.)

[6] John Gale. “Did Augustine foreshadow psychoanalysis?” In: John Gale, Michael Robson, Georgia Rapsomatioti. Ed. Insanity and Divinity – Studies in Psychosis and Spirituality. 1st. ed. 2013 Routledge London: Routledge, Taylor & Francis Group, 2013. 288 p. Capítulo 7.

https://www.taylorfrancis.com/books/e/9780203694244/chapters/10.4324/9780203694244-21

https://doi.org/10.4324/9780203694244

[7] Fausto Antonio de Azevedo. “Tecnologias de produção do eu – considerações primeiras.” Publicado no Portal Tempo Análise, em 18/setembro/2019. Ver: https://tempoanalise.com.br/tecnologias-de-producao-do-eu-consideracoes-primeiras/ (Acessado em 18/abril/2020.)

[8] Fry Nelson Medina. San Agustín de Hipona. Ver: https://www.youtube.com/watch?v=bUfwnh5n24g. Acessado em 9/abril/2020.

[9] Lembro aqui das importantes contribuições do filósofo Mircea Eliade, destacando sua obra “O Sagrado e o Profano: A Natureza da Religião” (original de 1959), e a visão de que

sagrado é a função de dar sentido; nas religiões e nas civilizações o sagrado insere o humano num tempo e num lugar certos, conferindo-lhe sentido.

[10] Agostinho, Santo, Bispo de Hipona. Confissões / Aurélio Agostinho [Tradução: J. Oliveira Santos, A. Ambrósio de Pina.] 1ª ed. São Paulo: Folha de São Paulo, 2010. [Coleção Folha: livros que mudaram o mundo; v. 12.] p. 156.

[11] A palavra vanidade vem do latim vanitas, vanitatis, (qualidade de vão, pura aparência, fraude, presunção, de que se possui algo quando o interior está vazio). O vocábulo deriva do adjetivo vanus (vão, oco, vazio), de onde procedem também: vão, desvão, desvanecer. Atribui-se a este vocábulo uma raiz indo-europeia equivalente a vazio e que em latim também gerou (1) o verbo vacare (estar vazio, estar desocupado), verbo que nos proporcionou palavras como vazio, vagar, vacante, vago, vácuo, vacuidade, evacuar etc., (2) o adjetivo vastus (deserto, vazio), de onde derivam vasto, vastidão, de devastar. Fonte: Diccionario Etimologico Castellano –– Verbete: “Vanidad”, http://etimologias.dechile.net/?vanidad.

[12] Nicola Abbagnano. Dicionário de Filosofia. Verbete “vaidade”. [Tradução da 1ª Edição bras. Coordenada – revista por Alfredo Bosi; revisão e tradução de novos textos Ivone Castilho Benedetti.] São Paulo: Martins Fontes, 2007. p. 988.

[13] Agostinho, Santo, Bispo de Hipona. Confissões / Aurélio Agostinho [Tradução: J. Oliveira Santos, A. Ambrósio de Pina.] 1ª ed. São Paulo: Folha de São Paulo, 2010. [Coleção Folha: livros que mudaram o mundo; v. 12.] p. 165. (Trechos.)

[14] Lisboa: Officina de Francisco Luiz Ameno, 1752. 403 p.

No Brasil:

  • Aires, Matias, 1705-1763. Reflexões sobre a vaidade dos homens. Edição fac-similar com um estudo biobibliográfico de Mario Lobo Leal. Rio de Janeiro: Zélio Valverde, 1948. 400 p.
  • Aires, Matias, 1705-1763. Reflexões sobre a vaidade dos homens, ou, discursos morais sobre os efeitos da vaidade oferecidos a El-Rei Nosso Senhor D. José I. Introdução de Alceu Amoroso Lima; ilustrações Santa Rosa. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

[15] Instituições e empresas são organismos vivos e é como se tivessem corpo e mente. Assim, interessantemente, o grande psicanalista Sándor Ferenczi apresentou ao II Congresso de Psicanálise em Nuremberg a conferência “Sobre a história do movimento psicanalítico” com sua proposta de “agrupar numa Associação internacional todos os que praticam cientificamente a psicanálise”, não se esquivando de a certa altura salientar, no entanto: “Conheço bem a patologia das instituições e sei com que freqüência, nos grupos políticos, sociais e científicos, imperam a megalomania pueril, a vaidade, o respeito por fórmulas vazias, a obediência cega e o interesse pessoal, em lugar de um trabalho consciencioso, dedicado ao bem comum.”

Sándor Ferenczi (1873-1933). “Sobre a história do movimento psicanalítico” (1911) In: Sándor Ferenczi. Obras completas, 1908-1912, “Psicanálise I”. 2ª. ed. [Tradução Álvaro Cabral; revisão técnica e da tradução Claudia Berliner.] S. Paulo: Martins Fontes, 2011. p. 171.

[16] Matias Aires. Reflexões sobre a vaidade dos homens. Lisboa, 1752. p. 33-5. [Disponível no site “Domínio Público” – o pdf pode ser baixado:

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=38089.]

[17] Jean Baudrillard. Simulacros e simulação. [Tradução: Maria João Pereira.] Lisboa: Relógio d’Água, 1991. 201 p. Ver: https://relogiodagua.pt/produto/simulacros-e-simulacao/

[18] Breve percurso da idéia de narcisismo:

1752 – Jean-Jacques Rousseau tem sua peça Narciso: ou o Auto-Admirador levada em Paris.

1887 – Alfred Binet, psicólogo francês, emprega o termo pela primeira vez ao explicar uma forma de fetichismo em que a pessoa se toma a si própria como objeto sexual.

1898 – Havelock Ellis, sexólogo inglês, aplica a expressão “narciso-like” a um comportamento perverso de excesso masturbatório, quando a pessoa se faz seu objeto sexual.

1899 – Paul Nacke, criminologista, comentando o trabalho de Ellis, introduz o termo em alemão num estudo das perversões sexuais.

1908 – Isidor Sadger falou em narcisismo, a propósito do amor próprio, como forma de escolha de objeto nos homossexuais. “Todavia, distinguiu-se de Havelock Ellis ao considerar o narcisismo não como uma perversão, mas como um estádio normal da evolução psicossexual do ser humano.” [cf.: Elizabeth Roudinesco, Michel Plon. Dicionário de Psicanálise. (Tradução: Vera Ribeiro e Lucy Magalhães. Supervisão: Marco Antonio Coutinho Jorge.) Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998. Verbete “Narcisismo”, p. 530.]

1911 – Otto Rank divulgou o primeiro trabalho psicanalítico enfocando o narcisismo e o vinculou à vaidade e autoadmiração.

1914 – Sigmund Freud publicou Sobre o narcisismo: Uma Introdução, dedicado somente a tal assunto e no qual a palavra, embora já tivesse figurado anteriormente em outras obras suas, ganha o valor de um conceito.

1923 – Martin Buber lançou o ensaio Eu e Você, em que apontou que o narcisismo pode conduzir a relacionamentos em que o narcisista entende os outros como objetos ao invés de igual para igual.

2015 – E em anos mais próximos e pelo rumor que tem causado, mas com certas contribuições instigantes, e também por comprovar a sempre atualidade e interesse geral do tema, é oportuno referir Sam (Samuel) Vaknin e seu Malignant Self Love: Narcissism Revisited, a esposa Lidija Rangelovska como editora: Full Text, 10th ed., Independently published, March 1, 2015 (728 p.). Ver: https://www.amazon.com/dp/1983208175 e https://www.gutenberg.org/ebooks/4663.