Aplicar, do latim applicare, composto por ad (em direção a, para) e plicare (fazer dobras, no sentido de conectar). Por assimilação, o prefixo ad se altera para ap quando está antes de “p”. Do verbo plicare derivam outras palavras, como implicar, explicar, complicar. Plicare tem em sua origem uma raiz indoeuropéia, plek (dobrar, trançar), que no grego gerará diploos, dobrado em dois, que nos vai dar, por exemplo, diploma. Aplicar tem a ver com pôr (algo) sobre, em cima de, sobrepor, pôr em execução, em prática, empregar, medicar, injetar, investir, empenhar-se. Pôr algo em prática para auferir algum ganho ou benefício.
Mas tu me dirias: “As honrarias e os altos cargos proporcionam àqueles que os exercem honra e dignidade.” O quê? Acaso as magistraturas possuem a propriedade de dotar de virtude as pessoas que as exercem e livrá-las dos seus defeitos? Ocorre o contrário! Longe de fazer desaparecer a corrupção, elas a põem à mostra; é o que explica nossa indignação ao vê-las cair nas mãos dos criminosos: eis por que Catulo, sem levar em conta a cadeira curul onde se assentava Nório, deu-lhe o apelido de “estruma” (chaga horrenda). Queres ver como os cargos honoríficos exercidos pelos celerados cobrem-se de desonra? Sua ignomínia seria menos percebida se suas funções honoríficas não os distinguissem dos outros. E, quanto a ti mesmo, não é verdade que todo tipo de perigo ao qual estavas exposto fazia-te reconhecer que partilhavas o consulado juntamente com Decorato, que sabias ser um tolo e bufão metido a delator? Écom efeito impossível adivinharmos por que as funções honoríficas dignas de respeito são ocupadas precisamente por pessoas que estimamos indignas. Mas, se tu visses um homem sábio, poderias por acaso considerá-lo indigno de respeito ou da sabedoria que ele possui? Claro que não! Na verdade, o mérito possui efetivamente uma dignidade que lhe é própria e que se comunica imediatamente às pessoas de bem. Mas, como as honras prestadas pelo povo não podem ter o mesmo efeito, fica claro que as honrarias não contêm em si mesmas nenhuma dignidade e beleza. Ainda quanto a esse assunto, é preciso acrescentar que, se a baixa condição de um homem não é medida pelas pessoas que o desprezam, as honras, além de não tornarem respeitosas aquelas pessoas a quem são conferidas quando estas se expõem à multidão, tornam ainda mais grave a situação dos desprezados. Mas isso também tem suas consequências, pois as pessoas más também empanam as honras com sua infâmia. E, para que reconheças que essas honras, que não tem valor em si mesmas, não proporcionam o verdadeiro respeito, faço-te a seguinte pergunta: se um homem que já exerceu por várias vezes a função de cônsul encontra-se de passagem entre os povos bárbaros, essas distinções honoríficas torná-lo-ão mais respeitável aos olhos daqueles povos? Ora, se as honrarias possuíssem algum poder por si mesmas, elas sempre se distinguiriam onde quer que fosse, tal como o fogo que aquece da mesma maneira por toda a Terra; mas uma vez que essas distinções não possuem tal propriedade, ao contrário da falsa opinião dos homens, mostram-se insignificantes assim que se apresentam a pessoas que não as consideram honrarias. Mas isso acontece nos próprios lugares onde foram criadas. A pretura, magistratura que outrora conferia grande poder, é hoje em dia um título sem valor e um grande fardo para o Senado. Quem cuidava do abastecimento da cidade era tido outrora por um personagem de grande importância; hoje, nada é considerado mais aviltante que a pretura. O motivo é que, como já dissemos pouco acima, aquilo que não tem em si próprio nenhum mérito é avaliado pelas opiniões da multidão, que o exaltam ou o rebaixam. Se, de um lado, as honrarias não proporcionam a consideração e, de outro, poluem-se ao contato com pessoas desonestas, se com o tempo elas vão perdendo seu antigo resplendor assim como o seu valor junto à estima do povo, como acreditar que possuem algo de bom em si mesmas para que mereçam ser desejadas e, ainda por cima, transmitidas aos outros homens?
O texto procura apresentar algumas respostas, ou pelo menos reflexões, quanto a três perguntas definitivas e milenares: De onde venho?, Quem sou?, Para onde vou?. E tenta fazê-lo à luz de algumas idéias básicas e teses de Catarina de Sena e da Psicanálise.
Um amigo querido, bioquímico e médico, disse-me ontem, em referência ao drama-caos que o mundo está atravessando, que, em sua percepção, o pior efeito colateral da pandemia viral é o “pandemônio virtual” que se instalou. Já uma psicóloga, educadora e psicanalista, parceira de viveres e poesias, comentou minha observação sobre humildade intelectual (humildade como oposto de orgulho e vaidade), a qual eu lhe fizera por estar vasculhando a vida de Gregório Magno1, arrematando que hoje nos são escassas a humildade em tudo e a honestidade em mais do que tudo.
“Na linguagem corrente, o termo inconsciente é utilizado como adjetivo, para designar o conjunto dos processos mentais que não são conscientemente pensados. Pode também ser empregado como substantivo, com uma conotação pejorativa, para falar de um indivíduo irresponsável ou louco, incapaz de prestar contas de seus atos.
Filosofar é a arte (o vício talvez) de fazer perguntas… Assim sendo, a motivação para esta breve reflexão que se segue parte do propósito de se aplicar a filosofia ao cotidiano.
A partir de 1343, a vasta área denominada Eurásia passou a padecer de uma pandemia, uma peste: peste bubônica, peste ou morte negra (na sua evolução causava hemorragias subcutâneas, que se tornavam escuras no momento terminal da doença, de onde resulta o nome). A bactéria Yersinia pestis (bacilo isolado apenas em 1894 pelo francês Alexandre Yersin) causa a doença, e tal agente é transmitido ao homem por pulgas (Xenopsylla cheopis) de ratos-pretos (Rattus rattus) ou de outros roedores. A penetração da bactéria na pele provocava adenite aguda, que era denominada de “bubão”, principal sintoma da doença, e disso vem a designação de peste bubônica. A morte sobrevinha entre três e sete dias após o contágio, acometendo de 75 a 100% dos contaminados.